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COMUNIDADE CHINESA: AMEAÇA OU OPORTUNIDADE?

A comunidade chinesa ocupa um lugar cada vez mais importante na sociedade portuguesa. São muitas as lojas e restaurantes de chineses, há quem diga que estão em todo o lado e que já são milhões em Portugal. Efectivamente, a população chinesa está espalhada por todo o país, concentrando-se mais no litoral – a maioria dos imigrantes chineses é proveniente da província de Zhejiang, que tem um clima parecido com o nosso litoral -, mas no total não passa das 30 mil pessoas. A um nível superior, os investidores chineses estão agora a entrar na nossa economia (o caso mais conhecido é o da EDP). Mas será que esta “invasão” chinesa é uma ameaça ou uma oportunidade para Portugal?

É comum ver-se e ouvir-se os comerciantes a queixar-se das grandes superfícies e, em particular, das lojas dos chineses. São muitas e vendem barato, o que num contexto de crise é uma grande vantagem para estes estabelecimentos.


A maior comunidade chinesa está na zona industrial da Varziela, em Vila do Conde. Lá abundam os armazéns, quase todos dominados por chineses, onde se vendem brinquedos, jogos e têxteis vindos directamente da China – a primeira linha de compradores destes produtos são os feirantes. O vereador da Câmara Municipal de Vila do Conde, Vítor Costa, conta que “houve alguns problemas entre o comércio local e a comunidade chinesa”. “Os comerciantes locais que estão no mesmo mercado que os comerciantes chineses ficaram insatisfeitos. Há dumping, os chineses vendem muitíssimo mais barato e isso afecta-lhes o negócio, tal como a existência de grandes superfícies. Mas quanto a isso a autarquia nada pode fazer”, lamenta.


Dentro da própria zona industrial, os problemas foram de outra ordem. “O negócio das indústrias da zona não foi muito afectado porque os restantes armazéns são de depósito e não de venda. O que aconteceu foi que os chineses, ao trazerem novos hábitos menos bons, nomeadamente ao nível da salubridade das ruas, prejudicaram a imagem das indústrias que já lá estavam”. No entanto, revela Vítor Costa, esta é uma questão que está a ser resolvida.


O dinheiro que aqui é movimentado, porém, raramente fica onde foi ganho, admite Vítor Costa. “Tenho pena que a riqueza aqui criada não fique em Vila do Conde nem em Portugal, porque o dinheiro que ali é ganho ou vai para a China ou para os casinos. A excepção são as casas que compram e os carros de alta cilindrada, de resto desaparece tudo”. A economia paralela e as redes de negócios familiares são uma realidade. Apesar disso, o vereador também vê aspectos positivos na integração cada vez maior da comunidade chinesa: “As comunidades enriquecem com as trocas culturais. A vinda de estrangeiros, controlada e regulada, é sempre boa para qualquer comunidade”.


Daqui não saio!​


Xia Shuangmei, proprietária da cadeia de lojas O Cheio-Cheio, admite que estas redes de troca de dinheiro entre familiares são algo normal nos chineses e é assim que os negócios avançam. “Avançámos no negócio devagarinho, na maioria com ajuda dos familiares. O comércio agora está mau. Dantes vendíamos tudo, agora é tudo barato e difícil de vender, por isso temos que nos ajudar”.


Antes do Cheio-Cheio, Shuangmei teve um restaurante quando chegou a Portugal vinda da Bélgica, há 16 anos. Também aí a rede familiar e os amigos foram importantes. “É difícil montar um restaurante, porque tem que ser pago a pronto e é um encargo muito grande para quem está a começar. Uma loja não, porque se arranjam amigos que têm armazéns e temos três meses, seis meses ou um ano para pagar”.


A adaptação da dona do Cheio-Cheio ao nosso país não foi difícil. “Em termos de convivência com os portugueses não tive problemas, mas também sou uma pessoa mais comunicadora, se calhar outras pessoas sentem mais a diferença”. As parecenças a nível de carácter entre portugueses e chineses também ajudaram à ambientação.


Apesar das dificuldades impostas pela crise, Xia Shuangmei não quer sair de Portugal. “Investimos aqui tudo, trouxemos dinheiro lá de fora, agora fico aqui. Andei por muito lado, cheguei aqui e disse ‘este é o último sítio onde eu fico, se não ficar volto para a China’. Fiquei e vou continuar, gosto de estar aqui”.


O lado português


O recente investimento chinês na EDP e notícias de outros possíveis negócios da China em Portugal lançaram para a opinião pública a ideia de que estava a haver uma “invasão” chinesa e de que Portugal, no extremo, se ia transformar numa colónia do governo de Hu Jintao. Porém, esta aproximação chinesa pode ser vista pelos portugueses mais como uma oportunidade do que como uma ameaça.


De facto, são cada vez mais os estudantes a procurar aprender mandarim, não só na universidade (no caso da Universidade do Minho no curso de Línguas e Culturas Orientais - LCO), mas desde logo no ensino secundário. Emília Dias, coordenadora dos cursos de chinês em Braga, diz que cada vez mais os pais investem na aprendizagem da língua por parte dos filhos. “Na maior parte das vezes a iniciativa parte dos pais: ou porque têm conhecimentos na China ou porque vêm no chinês um futuro para os filhos. Porém, as crianças acabam por gostar de aprender a língua e a cultura. É uma questão de motivação, como em qualquer outra matéria”.


A visão do chinês, da China e, generalizando, do Oriente como o ‘El Dorado’ do futuro próximo é o que leva a maioria dos estudantes para estes cursos. Viviana Fernandes, que já tirou o curso de Enfermagem na Universidade do Minho e que frequenta agora o primeiro ano de LCO, afirma que “as línguas orientais dão um grande futuro em termos profissionais. No entanto, a aprendizagem é muito difícil, a língua é muito diferente e o método de ensino também. É decorar, decorar, decorar!”. O fascínio por uma cultura diferente e milenar também é um grande atractivo para quem quer estudar chinês. As próprias empresas portuguesas incentivam os seus quadros a investir na aprendizagem do chinês, de modo a poderem alargar os seus mercados.


Assim, pela convivência com os milhares de chineses que vivem em Portugal, pelas aparentes semelhanças que ambos os povos têm – no sentido de humor, na capacidade de adaptação e no valor que dão à família –, pela aproximação que começa a existir até a nível institucional e apesar das queixas existentes em relação às lojas dos chineses, aos seus esquemas e a alguma insegurança, estas relações devem ser vistas como uma grande ocasião para os portugueses. 

 

Cartaz a anunciar aulas de inglês na Varziela

Zona industrial da Varziela

Chow's - O restaurante de Y Ping Chow

Aula de mandarim na Universidade do Minho

Livros de língua chinesa no Instituto Confúcio

Número de chineses em Portugal por distrito

Fonte: Serviço de Estrangeiros e Fronteiras

Entrevista a Xia Shuangmei - Dona do Cheio-Cheio

Entrevista a Viviana Fernandes

Aluna do 3º Ano de LCO

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Projecto Informação e Jornalismo 2012 - Made In China

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